segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Conquista da via "Jardineira"

Registro de Adilson Otto na conquista da Via "O Jardineiro" 6° VIIb E3 310m, Morro do Enxadão - Itatim/BA

Morro do Enxadão

O que mais chama a atenção quando se passa pela entrada de Itatim-BA, pelo menos para mim, é aquele monólito ao fundo da cidade chamado de Enxadão.

Inicio de 2009 cheguei na sua base e constatei que seria muito empenho abrir uma via na face norte, parede vertical cheia de liquens e musgos, com a proximidade do VIII Encontro de Escaladores do Nordeste (Itatim - BA)e com poucas vias para repetição mais acessíveis, acabei deixando esse projeto para outros tempos.

Em novembro fui prestigiar o IX Encontro de Escaladores do Nordeste (Brejo da Madre de Deus - PE) entrando em várias vias tradicionais, escalada alucinante que com certeza os caras tiveram enorme trabalho na conquista, por causa da limpeza a ser feita da linha da via, constatei que teria empenho parecido se o objetivo é abrir uma linha na face norte do Enxadão.

No final de semana seguinte do encontro resolvi encarar o projeto, separei todo equipo de conquista e ansioso para entrar na nova via, fomos sem muita pressa eu e Filipe Bispo, no final do setor encontramos onde seria o inicio da via.

Começando por uma fenda fácil com duas peças móveis, que entra em um lance de aderência de grau, onde coloquei um grampo, após 40 metros começou a ficar vertical entrei em um pequeno diedro com dois nuts e mais dois grampos estava na primeira parada com 60 metros.

Segunda cordada, três metros após a parada entrou o camalot 2 aprova de bomba e resolvi esticar, se foram 8 metros de grau e cheguei a outro diedro, mais dois grampos e outro lance de com algumas formigas para adrenar um pouco, cheguei a um pequeno platô. Começou a sequência de regletes com liquens, sai os liquens fica os regletes, mais quatro proteções em um lance de 7a e cheguei a segunda parada de 60 metros, chegou ao fim de cinco horas de trampo.

No dia seguinte entramos novamente empolgados com o resultado e por certa tranquilidade na conquista, doce engano começou a pancada nolombo, o negócio realmente começou a sujar! Cada metro a progredir necessitava de jardinagem e escova para limpar as agarras, dessa limpeza foram aparecendo buracos, regletes e abaulados por baixo da vegetação, após quatro grampos saiu um lance de 7b em abaulados, muito doído, segui onde parecia ser mais óbvio e fácil avistei uma pequena fissura de sete metros,bora pra , que tristeza a fenda era apenas um trincado e não entrava nada potente, mais quatro grampos e um lance de 7b bem hard por sinal, deixamos uma corda fixa para agilizar a ascensão na próxima investida, não queríamos descer a noite e resolvemos baixar, cinco horas de trampo e apenas 40 metros pra cima.

Início de dezembro trampo nos finais de semana, chuva (aqui no nordeste também chove), natal chegando e se foi quase um mês que a coitada da corda estava no tempo, dia 28 resolvi voltar ao projeto.

Muito mal acostumado com o ritmo de abrir vias no Morro da Toca, onde conseguia em quatro horas chegar ao cume de 180 metros, achei melhor voltar aos primórdios e invocar o espírito desifudênciae entrar pela terceira vez e disposto a terminar logo esse empenho.

Começamos a escalar às 7:00, desta vez estava com Léo, escalamos rápido e jumareamos os 60 metros finais, torcia que a partir dessa cordada os lances seriam mais fáceis, a sequência continua e a limpeza também, 10 metros da sexta cordada estava feito a jardinagem seguia em frente e a sequência alucinante de regletes e buracos apareceram. Como a progressão é lenta fazia o máximo pra agilizar mas não tinha jeito, feita a P7 cheguei a um bom platô onde minha vontade era descer mas o cume estava logo ali, sabia que com a carga da bateria que tinha iria fazer mais uns oito furos e resolvi gastar essa carga , borá pra cima, transversal pra direita entrei em uma canaleta torcendo pra entrar várias peças, não dei sorte entrou somente uma no inicio e o restante foi fixo mesmo, fui progredindo sai a esquerda e mais um lance de 7b, fiz o último furo e era a bateria e o dia de trampo, mais duas cordas fixas pra outra jornada, agora tinha certeza que estava perto do cume e faltava uns 70 metros pro fim, mas não podia fazer mais nada antes de carregar as bateriasminha e da maquina.

Ano novo projeto velho, iria terminar essa via nem que seja no batedor, agora com oespírito de sifudência elevadacomeçamos a escalar 5:40, 90 metros de escalada, 150 de jumar e 20 minutos de descanso, avistava a vegetação no cume mais alguns regletes e estava na P8, a nona cordada de 30 metros fluiu bem e a jardinagem quase não foi necessária e com duas horas de trampo estava na P9, nem acreditei que estava na chaminé de acesso ao cume, esperei Filipe chegar e toquei pra cima cinco metros de chaminé e pra variar não entra nenhuma peça, melhor colocar um fixo! Saindo da canaleta a esquerda, mais dois grampos estiquei alguns metros e fui avisado pelo rádio que faltava pouco para 30 metros, essa foi rápida, colocada a P10 estávamos dez metros do cume, mas estava sem grampos e o lance é de aderência seria inevitável colocar algo fixo, chega meu parceiro aquela euforia para terminar logo comemorar e descansar no cume, fui pra cima desviando das bromélias, mais um fixo cheguei em um teto que vestiu um camalot 2 perfeito, fiz a transversal a esquerda, virei o pequeno teto mais uns 4 metros eCumbre.


Vista do Cume do Enxadão


Vista do Cume do Enxadão

Que alegria pela conquista dessa linha, caminhada pelo cume, curtir a paisagem escrever algo no livro da via, e agora a parte triste, os 310 metros de rapel.

Agradeço a parceria do Filipe Bispo e Leandro Poka. Kmon........

Adilson Otto